A GENEROSIDADE DAS
MANGUEIRAS (D. Arbués)
Desde
miúdo, me impressiona muito a generosidade das mangueiras. Conheci esses seres
verdes pelos caminhos que me levavam às barrancas do rio. Muitas, sempre me
observando lá do alto em seus quintais.
Pessoalmente,
fui conhecê-los melhor quando fui morar com minha avó, em Torixoréu. Senhora
Manga Rosa e senhor Coração de Boi foram meus companheiros e irmãos por mais de
ano. No grande quintal que era o meu continente, me ouviram confidências,
criancices, sonhos, enquanto me davam sombra, frutos e aventuras.
Nas
várias cidades onde morei, presenciei tempos bons, menos bons e ruins,
principalmente em decorrência de escassez de chuvas, viroses e fatalidades.
Mesmo nessas adversidades, sempre estiveram lá as mangueiras, repletas de
frutos, como se estendessem seus braços para oferecê-los a todos,
independentemente dos bairros e de suas condições financeiras. Tão acessíveis
que causaram até estranheza quando começaram a aparecer nas saladas de
restaurantes populares ou chiques.
Tenho
para mim que as mangueiras, árvores, estão mais perto de Deus do que nós,
humanos. Isso porque, tanto elas quanto as pedras, alcançam mais a sua
plenitude no universo que nos cerca. As árvores cumprem o seu destino, dão
sombras, madeiras, flores, frutos, chás, essências, remédios, são casas ou
apoios para pássaros e outros bichos, além de ajudarem na pujança e purificação
da natureza. Isso tudo, ali, nos lugares onde nasceram e onde geralmente vivem como
guardiãs e morrem, sem buscarem outra aventura que não essa da própria
existência, seus ciclos e servidões. Se nós, homens, fomos feitos à imagem de
Deus, a nossa plenitude existencial está bem mais longe, já que caminhamos, pensamos,
falamos e temos outros dons que nos fariam até mais completos do que as
árvores, mas que, ao serem muito mal utilizados, acabam por nos deixar mais
longe daquilo de plenos que poderíamos ser. Para mim, as pedras e as árvores
existem e participam da existência de forma mais simples, objetiva, essencial, divina.
Por isso, desde miúdo, me impressiona muito a generosidade quase perdulária das
mangueiras.
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