domingo, 13 de setembro de 2020
domingo, 2 de agosto de 2020
BEATLES - A ARTE EVOLUI
BEATLES – A ARTE EVOLUI
D. Arbués
Ainda aos 4 anos, fui morar em
Anápolis, levado pela minha família. Menino de cidade pequena, pude conhecer na
chamada Manchester goiana, muitas coisas totalmente novas pra mim, como
asfalto, charretes, elevadores, programas locais de rádios e TVs e, neles,
músicas de estilos que eu nem conhecia. Dentre muitos, como Elvis Presley,
Trini Lopez e mais sucessos dos anos 60, o som das músicas dos Beatles foi o
que mais me encantou. Lembro-me de ficar deslumbrado com a energia de Twist and
Shout, She loves you, I Want to hold your hand e, principalmente, com o som de
guitarra de Words of Love, que me fazia parar para ficar ouvindo em frente a casas
ou lojas aonde estivesse tocando.
Seguindo minha crescente paixão por
música, ainda conheci parte de movimentos como o da jovem guarda, tropicalismo,
anos de ouro da música italiana, surgimento de novos grupos e cantores em todas
as partes do mundo, mas sempre seguindo o meu grupo preferido que virou o
fenômeno mundial The Beatles. Enquanto eu aprendia os primeiros acordes de
violão, me impressionou muito a melodia inovadora de Help, além dos
contracantos e arranjos das vozes que começavam a buscar novas estruturas
melódicas (embora eu só viesse a poder analisar assim mais tarde). Daí por
diante, o quarteto seguiu uma carreira fantasticamente rica, conseguindo nos
levar por caminhos criativos, experimentais, que abarcaram do popular ao
clássico, com sucesso arrebatador nos cinco continentes. Para mim, justamente
aí mora o mérito dos Beatles, não se acomodando, tendo sede de conhecimento e,
inclusive, mantendo suas procuras individuais que acabaram por separá-los.
Ouvindo toda a obra dos Beatles, eu,
particularmente, consigo conceber sementes de muito do que veio a acontecer
depois no mundo musical. Sementes de Pink Floyd, Queen, Bread, Supertramp, Nazareth e tantos outros grupos notáveis, com todo o respeito pois, pra mim, a
música é “reviver o feito, criando” e Beatles criaram e caminharam muito até chegar em Eleanor Rigby, Yesterday, Come Together, Because, Across the Universe etc. Vocês já tentaram
imaginar os sucessos que eles conseguiram emplacar depois, em suas carreiras individuais,
recebendo a participação de todos em vocais e arranjos? Já
imaginaram Mother, Happy Christmas, Imagine, Stand by me, de Lennon, arranjadas
e gravadas pelos Beatles? My Love, Mull of Kintyre, Another Day, Live and Let Die, de Paul? My
Sweet Lord, Give me Love, de Harrison?!...
Pra
mim, arte é isso que eles fizeram, não se contentando com o sucesso fácil de
repetições de fórmulas. Ao invés disso, foram honestos na procura de caminhos,
concepções, inovações, ousadias, microfonias, efeitos e experimentos. Hoje em
dia, inclusive no Brasil, o que mais se vê são cantores que se dizem autores de
500 músicas quando, na verdade, 480 delas são cópia de outras, deles próprios
ou não. É esse um dos principais fatores que fazem a decadência criativa e intelectual
da arte e, consequentemente, de pessoas a quem ela é imposta, que a consome por ser a única
opção que lhes alcança os ouvidos dentro da própria casa ou trabalho.
E é por isso que, tanto tempo depois,
continuo vibrando com a história dos 4 rapazes de Liverpool. Por que a arte e a
ciência são os faróis que guiam e conquistam a evolução da humanidade. A arte evolui.
Beatles foram arte, caminharam.
sexta-feira, 31 de julho de 2020
domingo, 19 de julho de 2020
AS TEMPESTADES
AS
TEMPESTADES
D. Arbués
D. Arbués
Estive pensando e tentando entender um
certo fascínio que tenho pelas tempestades. Talvez isso tenha vindo das ocasiões de
chuva forte, quando meu pai ou minha mãe mandava que entrássemos pra debaixo da
grande mesa de refeições da família, que virava algo como um bunker, no meio da
enorme sala de piso de tijolos assentados no centro da casa. Como éramos em
muitos irmãos, essas ocasiões me davam uma sensação muito mais de cumplicidade,
excitação e diversão do que de medo. Os clarões de raios e barulhos de trovões
se misturavam às conversas que acabávamos inventando embaixo da
mesa.
Talvez isso tenha vindo das brincadeiras de
soltar barquinhos de papel na enxurrada com os outros meninos quando a chuva
terminava. Lembro-me de irmos seguindo os barquinhos, dentro da enxurrada, com
sapatos de borracha que esguichavam a água turva, amarelada, pelos furinhos que
tinham na parte de cima dos dedos. Era como se fosse um chuveiro pra cima. Divertido,
mas deixava um odor terrível quando secava.
Talvez isso venha também dos banhos
gelados que meu pai deixava que tomássemos na água da própria chuva, que ficava
por um bom tempo escorrendo generosa na bica do telhado de casa, no finzinho de
cada tormenta, tão logo cessassem os raios.
A verdade é que, mais à frente, cheguei
à conclusão de que a tempestade era uma senhora sisuda, mas justa, que igualava
a todas as famílias, pobres, remediadas ou ricas, caindo sobre suas casas com a
mesma intensidade, moderação ou fúria, sem exceção. Ela, volta e meia, vem
lembrar-nos claramente da nossa pequeneza humana, diante do poder da natureza e
do universo. Traz sinais e mensagens das forças e energias superiores.
Por isso também, quero crer que esse certo
fascínio nasceu da ingenuidade de um menino de família comum, mas que foi
ensinado a conviver com as tempestades e a ver a natureza como aliada, desde
que respeitada ou procurada na forma e momento certos.
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