Fui privilegiado pelas
realidades diferentes em que a vida me colocou bem cedo. Da pequena
Aragarças, logo aos 5 anos fui levado para a segunda maior cidade de Goiás,
Anápolis, onde conheci a modernidade de então. Aos 7 anos, voltei de lá e fui
morar em Torixoréu, interior de Mato Grosso, de onde acabei indo para um lugar
muito especial chamado Fazenda Fumaça, no mesmo município. Fui para essa fazenda estudar com
meu tio Pedro Arbués, que era o professor da escola rural que lá havia. Tive,
portanto, antes dos 9 anos, a valiosa experiência de saber da vida em cidades pequenas,
na cidade grande e numa fazenda.
Desenvolvi
o uso desses compartimentos em várias matérias e várias situações da vida, o
que me foi e continua sendo de enorme valia, agradecendo sempre a maravilhosa
capacidade do cérebro humano. E é justamente sobre essa capacidade que quero
refletir.
A
evolução da tecnologia é algo fantástico decorrente da inteligência humana. Mas
observo também que, hoje, as novas gerações estão precisando cada vez menos de estudar para gravar os conhecimentos na própria mente, já que eles estão
acessíveis numa pesquisa do Google e, agora, ainda mais, na Inteligência
Artificial. Basta, por exemplo, perguntar em viva voz quanto dá, por exemplo, 15
X 12, 9 X 14 ou 25 X 18, que a resposta virá imediatamente na voz do recurso
utilizado. E, pouco a pouco, essas plataformas vão se transformando numa
espécie de HD externo de cada pessoa.
Se,
por um lado, isso é fantástico, por outro lado, o cérebro humano vai sendo cada
vez menos exigido, começando a fazer um tipo de caminho inverso da escalada
que, durante milhares de anos de uso, o fez chegar ao estágio de evolução
atual. E resta saber se esse crescente desuso funcionará como um processo de
atrofia, que fará as pessoas se importarem cada vez menos com as
individualidades que pouco a pouco vão sendo generalizadas.
Já se pode ver esses sinais em vários setores da vida humana. Isso é, certamente, preocupante pois, as pessoas têm a tendência de, cada vez mais, se deixarem levar pelas informações que as acessam por meio das telas e mecanismos digitais. Nesse ritmo, o ser humano vai se acostumando a ser apenas como um programa que funciona sendo alimentado por dados. Vai virando um número de estatística. E, por aí, se perde um pouco da alma, do misticismo e da divindade das crenças. Por aí, muito se caminha rumo a que se torne realidade a ficção do domínio das máquinas. Pode até ser que surja algo novo, mas, a princípio, parece, cada vez mais, que estamos vivendo um final de ciclo. De um ciclo onde a vontade da descoberta do novo, que sempre moveu o ser humano, vai sendo deixada de lado em função de uma aceitação da mesmice ardilosamente revestida na tecnologia.
Há uma estagnação de final de ciclo estampada no comodismo generalizado das pessoas (claro que há exceções). Essa mesmice interessa e é financiada por quem detém o poder econômico e se dá bem com a manutenção do jeito que as coisas estão. Só que, na percepção dinâmica da história, essa estagnação é, na verdade, uma gritante decadência.
Mas, obviamente, há também o lado incrível da Inteligência Artificial e esperemos que nela mesmo se encontrem fontes onde possam os seres luminares encontrar caminhos que combatam essa estagnação e conduzam a humanidade a um futuro sem perda da dimensão anímica sob os faróis da Ciência e da Arte. Amém!