segunda-feira, 28 de abril de 2025

A TABUADA DE 12


                 Fui privilegiado pelas realidades diferentes em que a vida me colocou bem cedo. Da pequena Aragarças, logo aos 5 anos fui levado para a segunda maior cidade de Goiás, Anápolis, onde conheci a modernidade de então. Aos 7 anos, voltei de lá e fui morar em Torixoréu, interior de Mato Grosso, de onde acabei indo para um lugar muito especial chamado Fazenda Fumaça, no mesmo município. Fui para essa fazenda estudar com meu tio Pedro Arbués, que era o professor da escola rural que lá havia. Tive, portanto, antes dos 9 anos, a valiosa experiência de saber da vida em cidades pequenas, na cidade grande e numa fazenda.


                   O estudo na fazenda foi por apenas um semestre, mas me fez evoluir demais por ser integral, manhã e tarde, assim como, pela qualidade e peculiaridades na forma de ensinar do tio Pedro. Entre essas peculiaridades, lembro-me da tabuada de 12 e acima, que nem constava no conteúdo dos livros. Consistia em, competindo com os colegas, no menor tempo possível, multiplicar qualquer número por 12, 13...18 etc. O macete era multiplicar o número por 10 (fácil) e deixar o resultado memorizado para somar com o resultado da multiplicação do mesmo número pelo que era de excesso a 10.  Por exemplo: 8 X12 virava: 8 X10 = 80; 8 X 2 = 16; Então, 80 + 16 = 96.). Ou seja, aprendi assim a criar tipos de compartimentos na cabeça, onde eu passei a conseguir fazer várias operações ao mesmo tempo, assim como, somar ou subtrair fracionando os números para facilitar e reagrupa-los com as diferenças deixadas à parte mentalmente. Isso foi de uma utilidade tremenda na minha história de profissional da contabilidade, quando conseguia fazer a maioria dos cálculos rapidamente, sem precisar de utilizar a calculadora.

                Desenvolvi o uso desses compartimentos em várias matérias e várias situações da vida, o que me foi e continua sendo de enorme valia, agradecendo sempre a maravilhosa capacidade do cérebro humano. E é justamente sobre essa capacidade que quero refletir.

                A evolução da tecnologia é algo fantástico decorrente da inteligência humana. Mas observo também que, hoje, as novas gerações estão precisando cada vez menos de estudar para gravar os conhecimentos na própria mente, já que eles estão acessíveis numa pesquisa do Google e, agora, ainda mais, na Inteligência Artificial. Basta, por exemplo, perguntar em viva voz quanto dá, por exemplo, 15 X 12, 9 X 14 ou 25 X 18, que a resposta virá imediatamente na voz do recurso utilizado. E, pouco a pouco, essas plataformas vão se transformando numa espécie de HD externo de cada pessoa.

                Se, por um lado, isso é fantástico, por outro lado, o cérebro humano vai sendo cada vez menos exigido, começando a fazer um tipo de caminho inverso da escalada que, durante milhares de anos de uso, o fez chegar ao estágio de evolução atual. E resta saber se esse crescente desuso funcionará como um processo de atrofia, que fará as pessoas se importarem cada vez menos com as individualidades que pouco a pouco vão sendo generalizadas.

                Já se pode ver esses sinais em vários setores da vida humana. Isso é, certamente, preocupante pois, as pessoas têm a tendência de, cada vez mais, se deixarem levar pelas informações que as acessam por meio das telas e mecanismos digitais. Nesse ritmo, o ser humano vai se acostumando a ser apenas como um programa que funciona sendo alimentado por dados. Vai virando um número de estatística. E, por aí, se perde um pouco da alma, do misticismo e da divindade das crenças. Por aí, muito se caminha rumo a que se torne realidade a ficção do domínio das máquinas. Pode até ser que surja algo novo, mas, a princípio, parece, cada vez mais, que estamos vivendo um final de ciclo. De um ciclo onde a vontade da descoberta do novo, que sempre moveu o ser humano, vai sendo deixada de lado em função de uma aceitação da mesmice ardilosamente revestida na tecnologia.

                  Há uma estagnação de final de ciclo estampada no comodismo generalizado das pessoas (claro que há exceções). Essa mesmice interessa e é financiada por quem detém o poder econômico e se dá bem com a manutenção do jeito que as coisas estão. Só que, na percepção dinâmica da história, essa estagnação é, na verdade, uma gritante decadência. 

                   Mas, obviamente, há também o lado incrível da Inteligência Artificial e esperemos que nela mesmo se encontrem fontes onde possam os seres luminares encontrar caminhos que combatam essa estagnação e conduzam a humanidade a um futuro sem perda da dimensão anímica sob os faróis da Ciência e da Arte. Amém! 

 

 

domingo, 12 de janeiro de 2025

Análise do telurismo na poesia de Divino Arbués está em importante livro da EDUFNT - Editora da Universidade Federal do Norte do Tocantins

 

Lançada e acessível para leitura no link abaixo uma obra que analisa pontos do meu trabalho num conjunto da literatura regional abrangendo importantes escritores contemporâneos do centro-oeste, norte e nordeste. Fico muito gratificado pois é nessa hora que a gente  comprova que valeu muito a pena a persistência em produzir e lutar pela arte independente, apesar das tantas dificuldades encontradas. Logo trarei maiores detalhes que quero compartilhar com vocês, além da riqueza dessa própria obra que sai pela Editora da Universidade do Norte do Tocantins, tendo como organizadores os professores de literatura Márcio Araújo de Melo e Tereza Ramos de Carvalho, além da participação de Rosana de Souza Soares, cujo TCC na UFMT teve base no livro Folhas e Paisagens.
O livro aborda considerações sobre a complexidade e a função educativa do texto literário, considerando que a literatura revela o homem e a sociedade na qual está inserido ou quer representar e a maneira pela qual a mensagem é construída. 
O objetivo dos organizadores, professores de literatura, é voltado à ampliação das possibilidades de compreensão das práticas sociais por meio de textos literários, ampliando a metodologia para a escolarização da literatura.
Para isso, apresentam textos da literatura regional contemporânea das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, tais como, Hugo de Carvalho Ramos, Pedro Casaldáliga, Divino Arbués, Fidêncio Bogo, Pedro Tierra, José Mauro Brant, Javier de Mar-y-aba, Thiago Ramos.
O capítulo Folhas e Paisagens do Araguaia - O Telurismo na Poesia de Divino Arbués - é apresentado por Tereza Ramos de Carvalho e Rosana de Souza Soares.

https://drive.google.com/file/d/1UnxrnAnlTw6cHEFCW1iZdFjQPYCxRNfN/view?usp=sharing

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

A Marca do Palhaço

(D. Arbués) 

Às vezes me pego pensando sobre como o tempo atua na percepção das coisas!

Me lembrei hoje da figura do palhaço, tão popular e inocente em tempos nem tão distantes.

Hoje, vejo que o palhaço era divertido mas, também, um grande folgado, como atribui um dito popular ao seu colarinho. Vejam bem: ele saía pela rua fazendo barulho, falando o que bem entendesse. Começava light com um “Hoje tem marmelada? Hoje tem goiabada? Porém, pouco depois, já era folgado ao cantar na porta das casas “E o palhaço o que é? E a molecada respondia como ele os havia treinado: É ladrão de mulher”. E, com a própria mulher, não era elegante “A mulher do palhaço é um colosso – Caiu da cama, quebrou o pescoço”. Voltava a ser light em “O raio, o sol suspende a lua - Olha o palhaço no meio da rua”. Mas, pouco depois já folgava induzindo a criançada a um canto inocente, mas racista: “Olê, Olê bambu...  Filho de nêgo é urubu!... E por aí ia desfrutando de uma imunidade impensável nos tempos atuais.

Eu, tímido, não era de participar disso. Porém, em uma certa ocasião, em Torixoréu, chamado por um colega e vizinho, me juntei aos meninos que iam atrás do palhaço, respondendo em algazarra aos seus disparates para ganhar a entrada gratuita no circo. Ao final da passeata, foi feita a fila de meninos para receber a marca que lhes daria o direito à entrada franca. E lá veio o palhaço aprontando! Para minha surpresa, constatei que, pelo que meu colega ostentava na testa, o palhaço havia escrito, também na minha, um número 24 com um tipo de lápis preto, algo assim. Será que ele não podia ficar na parte engraçada sem ser folgado?  Ele bem sabia de um preconceito que já trazíamos dos adultos com relação ao número 24!

O fato é que, antes de chegar em casa, dei um jeito de esfregar a testa com um papel de pão que encontrei em alguma calçada, até tirar o sinal e ficar apenas com a vermelhidão dos esfregões. E, logicamente, não fui ao circo naquela noite.

No outro dia, não fui mais na comitiva de crianças seguindo o palhaço. Mas, no fim daquela tarde, vi na testa de um outro menino da minha rua que, naquele dia, a marca para entrar grátis era uma pinta feita com uma pomada branca ou algo assim.

Não tive dúvida: Achei a lata de pomada Minâncora de minha vó e, sem que ninguém visse, me marquei diante de um espelho. Naquela noite, fui folgado como o palhaço e entrei de graça, sem tê-lo seguido. Afinal, eu tinha uma entrada de crédito e palhaçada trocada não dói!

Hoje, vejo assim. Naquela noite, só desfrutei e ri muito com as palhaçadas e outras atrações.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

 

SOTAQUES I – A DANÇA DOS IS

                               Divino Arbués

Talvez pelo dom do ouvido musical, o tempo me ensinou a reconhecer bem a origem das pessoas pelo som de suas vozes e seus sotaques. Dentro desses detalhes, trago algumas curiosidades que compartilho agora com vocês.

Vocês já perceberam que, dependendo da região, as pessoas acrescentam uma letra i nas palavras?  Isso é muito perceptível em alguns casos como, por exemplo, na palavra “mesmo”:  O carioca, além de chiar o s, coloca um i na parte final da primeira sílaba. Assim, o som que se ouve é meismo! O mineiro e parte dos goianos inserem um i no início da sílaba e, assim, o som fica miesmo. Em algumas regiões não se acrescenta um i, mas o s é chiado, como em parte do nordeste, na região norte e na baixada cuiabana. Em algumas outras regiões onde não se chia o s, o mesmo é mesmo, mesmo! Há uma parte do interior de SP que, inclusive, tira o s, pronunciando mêmo. Existe até um gingado carioca que insere um r no lugar do s, dizendo mermo. Eu góstio é desse jeitho, soa nordeste. No Pará, castânia ou tomar bânio...

Em diversas outras palavras, o carioca usa muito acrescentar um i. Quem nunca ouviu a pronúncia do RJ em naiscer, feista etc?  Porém, paismem, isso não lhe é exclusivo. O paulistano também é famoso pelo “estou entendeindo!” - Olha ele, o i, aí! Enfim, curiosidades de um país tão grande e diverso como o Brasil. Voltarei ao tema.

terça-feira, 19 de julho de 2022

COMPARTILHANDO O CONVITE QUE RECEBEMOS COM O LINK PARA PARTICIPAÇÃO NESSA APRESENTAÇÃO NA UFMT - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO. DEIXANDO AQUI O ACESSO PARA TODOS

Folhas e paisagem do Araguaia: o telurismo na poesia de Divino Arbués: via Google Meet
https://meet.google.com/pku-phffcxs


 

terça-feira, 26 de abril de 2022

 

VOCÊ NO MEU MUNDO

                                                       ( Divino Arbués/João Ormond)

 

EM BREVE ESTARÁ PUBLICADO O SITE DIVINO ARBUÉS, QUE SERÁ MAIS UM CANAL DE DIVULGAÇÃO DO NOSSO TRABALHO. ENTRE MUITOS MATERIAIS, LÁ ESTARÃO DISPONÍVEIS 12 PODCASTS RESULTANTES DO PROJETO ROMANCE DE RIO E SERRA, CONTENDO A ANÁLISE COMPOSICIONAL E O ÁUDIO DE CADA MÚSICA ESCOLHIDA NO PROJETO. COMO EXEMPLO, PUBLICAREMOS AQUI O PODCAST DO EPISÓDIO 09, REFERENTE À MÚSICA VOCÊ NO MEU MUNDO (D. ARBUÉS/J. ORMOND). E, ABAIXO DO VÍDEO, A SUA LETRA.



VOCÊ NO MEU MUNDO

                                                       (Divino Arbués/João Ormond) 

QUERO OUVIR DO VIOLÃO

O ACORDE MAIS VIBRANTE

BRINDANDO O AR COM UMA CANÇÃO

QUE LHE DIGA MEU AMOR

PRECISA A VIDA DE EMOÇÃO

DOCE, PURA, DELIRANTE,

DELIRA A CORDA EM AFINAÇÃO

PRA HARMONIZAR A DOR

 

PARA PALAVRAS ERRANTES

DE AMOR UM TEMA

PRA LEMBRANÇA DE UM CARINHO

RESPIRAR PROFUNDO

PARA CORAÇÕES DISTANTES

UM TELEFONEMA

PRA ENCHER ESSE VAZIO

VOCÊ NO MEU MUNDO

 

PRA EXPRESSAR O SENTIMENTO

MÚSICA QUE ENLEVE

PRA CONTER A DOR E O RISO

UM VERSO FECUNDO

PRA GOZAR A INTENSIDADE

PRAZER E VERDADE

VOCÊ NO MEU MUNDO

 

QUERO CANTAR O MEU AMOR / NO POEMA DESSE INSTANTE

QUERO TOCAR A INSPIRAÇÃO / VENHA ELA COMO FOR

PRECISA A VIDA DE EMOÇÃO / DOCE, PURA, DELIRANTE,

DELIRA A CORDA EM AFINAÇÃO / PRA HARMONIZAR A DOR

 

PARA PALAVRAS ERRANTES / DE AMOR UM TEMA

PRA LEMBRANÇA DE UM CARINHO / RESPIRAR PROFUNDO

PARA CORAÇÕES DISTANTES / UM TELEFONEMA

PRA ENCHER ESSE VAZIO / VOCÊ NO MEU MUNDO

 

PRA EMBALAR A MADRUGADA

TENRA MELODIA

TUDO DE TRISTE E PERIGO

SOLTE NUM SEGUNDO

PRA QUE VENÇA A POESIA

PRA UM FINAL FELIZ

VOCÊ NO MEU MUNDO

UM FINAL FELIZ FAZ NOSSO O MUNDO

UM FINAL FELIZ PAZ NO NOSSO MUNDO